11 outubro 2016

Centro do universo umbilical


Costumo dizer que ser o centro de tudo e ter amor próprio não são a mesma coisa. Nem de longe. 
Explico. 
A maioria dos problemas vem do fato de estarmos extremamente focados em nós mesmos, na nossa perfeição, no que gostaríamos que acontecesse conosco, no que o outro deveria fazer por nós. Mas isso não quer dizer amar-se. 
Quando focamos demais em nós mesmos, olhando apenas para o nosso umbigo, nos tornamos reclamildos, ou seja, passamos a desconsiderar o outro na relação. As crianças tendem a fazer isso bastante, os adolescentes em alguns momentos, por pura imaturidade. E isso é ok nessa fase. Cabe ao mundo mostrar a eles que não é bem assim. 
O problema é quando isso ultrapassa a juventude e vem se instalar na vida adulta. 
A pessoa que se vê como o centro vê tudo pela sua perspectiva, que nem sempre é a melhor ou a mais saudável. Torna-se cansada, irritada, superfocada em seus problemas. 
Amar-se é bem diferente. Amar-se é enxergar o outro sem misturar-se. É entender as suas necessidades e as dos demais, sem considerar uma mais importante que a outra. É estabelecer uma harmonia de sou e estou nas relações, respeitando a si e ao outro. Amar-se é gratidão, pelo que você é, pelo que o outro faz por você, pelo que a vida te permite evoluir em sabedoria e afeto por si e pelo próximo. 
Amar-se é uma tranquilidade que brota no peito e extravasa a volta, onde ser feliz pelo que se é, pelo que o outro é, resulta em liberdade. Onde todos somos importantes. 
O amor faz conta de multiplicação. Quem se ama, ama o outro na mesma proporção. 
Em uma época onde a busca pelo amor próprio virou moda, amar-se virou item indispensável. E consumimos pilhas a pilhas de informação a respeito. E muitas vezes confundimos amor próprio com desprezo por aquele que não nos valorizou. Hashtag beijinho no ombro.
Mas não sabemos que o que procuramos está dentro de nós, em um espaço quente e confortável chamado intimidade. E que sentimentos como raiva, desprezo e frustração só nos afastam disso. 
Quando fazemos as pazes com o que somos e com o que o outro é, criamos uma intimidade gostosa com nós mesmos, uma harmonia precisa entre ser e estar no mundo. 
A tolerância vem dessa fórmula bem bolada, onde nosso amor próprio supera expectativas infundadas e defesas exageradas, nos conectando ao mundo com sabedoria e felicidade, apenas pelo fato de existir. 
Se amar é mais simples do que parece. Como tudo o que importa na vida. 



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