05 agosto 2016

O não nosso de cada dia


Quantas vezes nos deparamos com situações em que, por gentileza ou por timidez, deixamos de fazer aquilo que gostaríamos?
Não se trata apenas de fazer algo pelo outro, mas sim de fazer sempre pelo outro, em detrimento de nós mesmos.
Muitas vezes injuriamos, mentalmente, aquela pessoa que ligou justo na hora da novela, ou mesmo aquele conhecido que pede algo pesado para trazer de viagem. Mas mesmo assim você deixa de ver a novela e carrega a encomenda.
O que nos impede de dizer: Será que posso te ligar mais tarde? Ou mesmo de deixar claro ao amigo que realmente não vai dar para trazer o que ele quer. Por que preferimos ignorar nossas vontades e nos submeter aos anseios alheios?
As concessões servem para viver de forma civilizada, em sociedade. Cada pessoa possui uma fronteira, um reloginho interno que nos avisa quando devemos ceder ou não. Quando este mecanismo não funciona direito, perdemos a noção de limite.
Surge um deixar invadir-se. 
A pessoa em questão não desenvolveu a capacidade de se posicionar diante das situações e de dizer: Não. E, caso o não  aconteça, vem acompanhado de culpa, arrependimento e insegurança. 
Saber negar algo a alguém não é tão fácil quanto parece. Negar-se a fazer o trabalho dos outros sempre, negar-se a assumir papéis que você não quer, negar-se a respirar fumaça de cigarro em uma área de não-fumantes, dizer que não vai comprar nada para aquela vendedora que fica empurrando mercadorias é arriscar-se a encarar reprovações. É saber onde começam e terminam seus direitos.
Para adquirir essa noção de limites, é preciso treino. Isso mesmo, treino. Imagine-se em situações que pareçam difíceis para você. Pensar nas melhores respostas, imaginar-se falando, agindo, colocando-se. Dizer para sua cunhada que não quer comer mais um pedaço daquele doce maravilhoso que ela fez, pedir à sua namorada que divida as contas com você, falar para seu chefe que você não poderá fazer extra naquela noite, pois é a apresentação do seu filho na escola. É experimentar o não.
Se tal palavra lhe parece pesada, pode-se utilizar outras formas de negação. Comece de forma gradual. Por exemplo, você não gosta de banana. Sua sogra adora e insiste em fazer torta de banana toda santa vez que você vai lá. E você já não aguenta mais ter que comê-las. Você pode começar com um simples estou sem vontade, evoluir para um talvez depois e terminar com um não gosto de banana, mas aquelas bolachas parecem deliciosas! 
Assim, a cada dia, a cada resposta, você pode perder a vergonha, a culpa, o medo de contrariar quem você gostaria que te aceitasse.
É importante salientar que nem sempre a pessoa que diz não sabe seus limites. E os limites do outro. Saber seus limites é defender seus direitos sem ofender. Não estou fazendo apologia ao egoísmo. É saber equilibrar suas emoções e pensar no que se passa dentro de você naquele momento. Não se trata de dizer sempre sim ou sempre não, mas aqui posso fazer uma concessão ou aqui não. 
Está sem a mínima vontade de ir naquele jantar na casa da prima da irmã do seu marido, mas ele faz questão da sua presença? Negocie. Cada um cede um pouco. Podem ficar menos tempo lá e depois ir ao cinema. 
Saber ter jogo de cintura é uma habilidade, mas que pode ser desenvolvida com boas doses de amor próprio, segurança e autoconhecimento




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