18 maio 2016

Obra de arte de corpo e alma


Esses dias reclamei de celulite e meu marido pediu que eu mostrasse para ele o que, afinal, era uma celulite, o que seria aquilo que tanto as mulheres falam.
Me surpreendi quando ele riu e disse: Isso? Nem noto que isso existe! Adoro é o conjunto da obra. Você é linda. 
Suas palavras me fizeram pensar que somos como obras de arte. Somos um conjunto de partes desenvolvidas com amor e carinho, que juntas formam um algo completo. Um pintura completa. Uma música completa. Uma escultura que emociona. 
As melhores obras de arte não são perfeitas, pelo contrário. Suas imperfeições são milimetricamente pensadas e destinadas a serem a parte mais interessante do conjunto. 
Sendo assim, porque nós, seres de carne, osso e alma, deveríamos ser perfeitos? Se até as obras de arte usam as imperfeições a seu favor, porque nós não as usaríamos?  
Fico pensando quem inventou essa coisa do ser perfeito. Só posso dizer que já faz tempo e que o conceito de perfeição vem mudando desde estão. E ainda muda, dependendo da cultura, do credo, da sociedade em que as pessoas convivem. 
Mas a ideia é a mesma: ser o que não somos, seguir um padrão ideal, eliminarmos os defeitos de forma máxima para atingir algum patamar. 
Como se isso fosse possível. 
Como se isso não gerasse apenas angústia e incompletude. 
Podemos e devemos evoluir, melhorar, para isso serve a vida e todo esse caminho tumultuado de vivência e sentimentos. 
Mas evoluir não quer dizer deixar de ser você mesmo. 
Em um vaso de vidro moldado, a graça está nas bolhas que se formam durante o processo, que nos lembram que o caminho é repleto de surpresas e contribuem de forma mágica para o conjunto final. 
Nossos defeitos e imperfeições podem ser nossos calcanhares de Aquiles, mas também são parte de um quebra cabeça interessante. Sem os defeitos, faltariam algumas peças. 
Buscar o equilíbrio, dentro do que somos, melhorando nossa convivência com nós mesmos e com os outros, é a base para uma vida feliz. 
Em um mundo onde a perfeição é tão visada, seja no corpo, nas escolas, no trabalho, nas amizades, ser feliz é para poucos. Vejo mamães que acabaram de ter filhos sofrendo por não estarem magras, duras e sem barriga como as atrizes das capas de revista. Vejo crianças deprimidas por não atingirem as metas escolares. Vejo profissionais frustrados, tentando ser o que não são. Vejo amigos que não toleram os defeitos dos amigos, querem amizades feitas apenas de qualidades. O mesmo vale para inúmeros casais que se frustram quando percebem que toda moeda tem dois lados. 
Aí a felicidade fica pelo caminho. 
Para evoluirmos precisamos de aceitação e amor. Evolução e perfeição não são conceitos semelhantes. Santidade e perfeição também não o são. Uma das coisas que mais me fascinava na catequese era saber que mesmo os santos tinham errado muito em vida. Achava isso o máximo. E ainda acho. 
Sejamos felizes! Lutemos por isso! 
Com defeitos e tudo. Com celulite na bunda e tudo. Até porque tem gente de bunda perfeita e coração vazio. E o coração, meus amigos, está estrategicamente mais proximo do cérebro por algum motivo. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário