03 abril 2016

A criança sagrada


Minha filha chegou muito triste do colégio, dizendo que a professora de artes havia apagado o desenho dela. 
Como-assim-me-segura!
Pedi que minha filhota repetisse a história, quando então ela contou em detalhes como a professora de artes havia dito que o desenho dela de figura humana estava errado e apagado para que ela refizesse "certo". 
Que ela não poderia usar traços para fazer a figura humana e deveria fazer do jeito que a professora queria. 
Em nada valeu o fato da minha filha ter feito uma linda cena de crianças brincando no parque, como ela mesma relatou, muito cabisbaixa. 
Minha filha tem sete anos. Sete anos! 
Juro. Me deu vontade de ir até a escola e apagar a cara da dita cuja. O sangue materno-da-cria-injustiçada correu nas veias. 
Respira Vanessa, conta até dez, visualiza carneiros azuis. 
O fato é que minha filha ainda está na fase do Zé palito. É assim que ela desenha as pessoas. É assim que ela interpreta o mundo. E isso é sagrado.
Entendo que existem professores e professores. Alguns são anjos especiais que existem para ajudar as pessoas a descobrirem o que elas têm de melhor. Outros é melhor nem comentar. 
Como existem médicos e médicos, dentistas e dentistas, psicólogos e psicólogos. Enfim. 
Eu mesma sou formada em Educação Artística e a primeira coisa que aprendi é que a produção da criança é sagrada. É a sua representação do mundo, seu desenvolvimento, seu eu. A faculdade de psicologia só veio a reforçar essa ideia de respeito em minha cabeça, respeito ao ser que habita dentro de cada criança, suas formas de produção e desenvolvimento. 
Duvido que essa professora teria tal atitude com um adulto. Provavelmente ela falaria gentilmente sobre "melhorias" no desenho e por fim aceitaria caso ele insistisse em sua produção. E porque então com as crianças pode se sambar na cabeça? Apagando desenhos, rasgando cadernos, apontando "erros" sem dó nem piedade como se a criança precisasse disso para aprender. 
Temos muito o que evoluir em termos de educação. Meus amigos professores, aos quais tenho profunda admiração, sabem disso. Mas o respeito ao sagrado que habita dentro de cada criança não depende de material escolar novo,  uniforme chique e tênis de marca. Depende apenas de uma alma evoluída e humilde, ensinando e respeitando outras que ainda estão caminhando e aprendendo a ser e existir no mundo. 
E isso, meus caros, é sagrado. 



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