25 fevereiro 2016

Os tímidos herdarão a Terra


Sou tímida. Ponto. 
Pode até não parecer pelo fato de eu ser escritora e de vez em quando precisar falar para uma galera. E ter rede social. E conversar com os leitores. E participar de eventos. E dar entrevista nas rádios.
Vocês entenderam. 
O fato é que nada disso é fácil para mim. Suo frio antes de uma palestra e muitas vezes passo por antipatica por não ter cumprimentado alguém. 
Confesso, sou esquisita. 
Me sinto desconfortável frente às muvucas e tenho dificuldade em estar por muito tempo no meio de muita gente. Somado a isso tenho um perrengue gigante para gravar nomes. 
Aí danou-se. 
Nós tímidos somos figurinhas engraçadas, ora nos isolamos, ora nos esforçamos para sermos sociais. Acho que a segunda parte é pior. Coleciono gafes por tentar ser quem não sou e errar a mão. Parece piada de filme americano em que o nerdzão tenta agradar e só faz besteira. 
Yap! Sou eu! 
Isso na adolescência é a treva!
Apresentar trabalho na escola era pior que tortura medieval, eu preferia ser pisoteada por mamutes enfurecidos.
Seria menos doloroso. 
Entendo que muitos outros tímidos sensíveis irão se identificar. Sei que não estou sozinha no mundo. Que existem outras pessoas que se sentem desconfortáveis quando são o centro das atenções e tem que fazer um esforço para diluir-se socialmente. 
Nos dias de hoje, onde a comunicação é mega-ultra-super incentivada, os extrovertidos são valorizamos. Achamos o máximo aquela criança que dança na frente da câmera, que fala com desenvoltura com os adultos. E normalmente olhamos torto para aquela que não gosta de aparecer nas fotos, não fala com a tia-avó e detesta amigo secreto. 
Supervalorizamos os youtubers, os vídeos, os seres extremamente sociais, pelo simples fato destes terem alto poder de comunicação, sendo que deixamos de lado outras personalidades menos visíveis e ainda assim maravilhosas em toda a sua composição. 
Pensem comigo: muitas das mais brilhantes invenções/criações da humanidade vieram de cérebros tímidos. Cérebros introvertidos e sensíveis, onde os estímulos externos rebatem com intensidade.
Pessoas que trocam qualquer festa por um bom livro e qualquer papo por um momento de silencio em casa. 
Quantos escritores, cientistas, matemáticos, artistas, engenheiros, pesquisadores... Tímidos! E nem por isso menos. Vamos valorizar os tímidos e sua forma particular de ser/acontecer. 
Concordo que todos precisamos buscar um equilíbrio, mas sem perder nossa essência de vista. Não sou uma pessoa extrovertida e nunca vou ser. Aprimorei os efeitos colaterais da timidez com os anos - olha a terapia aí gente - e hoje esta não me impede de nada. Mas ela ainda é meu self, meu centro. 
Então, se algum dia você achar que eu sou metida, perdoe, sou só eu e minha timidez de novo, passeando por aí. 



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