25 janeiro 2016

Ansiedades

Comprei para minha filha uns lápis de cor especiais para desenhar no
Chuveiro. Ela amou a brincadeira e já foi logo desenhando no box de vidro com furor, feliz da vida. 
Fiquei observando as formas que surgiam e não me contive:

- Filha, o que é? Um pirulito, um ovo, uma bola, uma flor, um leque, um cata-vento, um...

Ela então parou e me olhou com uma cara interrogativa: 

- Mãe, quando eu terminar vou saber o que é. Ainda não sei. Ainda não terminei. 

Simples assim. Se me dissessem que um artista plástico famoso de oitenta anos falou isso, acreditava fácil. 
O fato é que vivemos atropelando nossos filhos com nossas ansiedades, eu pelo menos vivo. E não só os filhos! O marido, os colegas, o caixa do supermercado, a família toda. Todo mundo é atropelado pela onda de ansiedade que invadiu o mundo nas últimas décadas. 
Queremos mais. Sempre. Queremos mais e melhor. Criamos um ideal em nossas cabeças e queremos encaixar tudo em um molde pré-concebido de como as coisas devem ser/acontecer. 
Vivemos pouco o processo, já pensando no final. 
Claro que a personalidade conta muito. Sou atacada, gosto de produzir, de ver as coisas criando forma, de alcançar as metas que estabeleci. Mas com o passar do tempo aprendi que deixar-se sentir e aproveitar o momento é mais importante. Caso contrário viramos uma lista de coisas a serem alcançadas, mas nenhuma devidamente desfrutada em seu caminho. 
Teve uma época da minha vida em que eu só pintava um quadro se tivesse onde pendurá-lo. Tudo tinha que ter um objetivo. E assim muito se perdia. Hoje exerço minha veia artística escrevendo e ilustrando, sem saber se tal livro vai ser publicado ou se um texto vai ser lido por uma galera. Crio e-books infantis para minha filha sem saber se outros filhos vão se interessar, pelo simples prazer de materializar histórias que brotam das nossas mentes maluquinhas. 
Tenho mania de planejamento, que às vezes só atrapalha. Mal acabou o ano e meu caderno de metas para o próximo já está cheio. Me policio muito para não envolver minha filha nessa minha loucura e de vez em quando me lembro de puxar o freio de mão. Mas, sou humana imperfeita e preciso aprender muito ainda para chegar lá. 

- Filha, é um Camelo? 


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